Recebo uma mensagem de colega, que assistiu a uma palestra minha (sobre evolução) e diz que se sentiu muito contrariada. Segundo ela, os criacionistas são apresentados como ignorantes, e na verdade, há muitos cientistas, de hard science inclusive, muito ativos no campo dos criacionistas.
De fato, creio que há gerneralizações que chegam a ser desrespeitosas. No entanto, reconhecendo o direito de todos em ter a fé religiosa que quiserem (ou ausência dela), deve-se admitir que grandes cientistas em física do estado sólido, por exemplo, não podem transferir seu prestígio intelectual automaticamente para outras áreas da ciência ou para fora dela. Um grande cientista em física do estado sólido tem opiniões sobre ligações de hidrogênio, por exemplo, que devem ser ouvidas com muito cuidado. No entanto, ao opinar sobre a filogenia de crustáceos ou sobre a arca de Noé, sua opinião deve ser respeitada, sem dúvida, mas da mesma forma como suas opiniões sobre futebol.
Na mensagem, havia uma referência sobre um índice utilizado para medir impacto de publicações científicas. O cientista utilizado como exemplo na mensagem tem alto índice em sua área. No entanto, nenhum artigo publicado em revistas como Evolution, ou mesmo mais genéricas, como Science e Nature, nas seções sobre evolução, sequer se referem a suas idéias sobre criacionismo.
Essa idéia de que o prestígio pessoal possa ser transferido automaticamente para qualquer área não faz parte das crenças mais básicas de ciência. Em ciência, o que vem em primeiro plano são as idéias, não a autoridade intelectual (por maior que seja) de quem as teve.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário