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domingo, 19 de junho de 2011

Alfred Russel Wallace e "Darwinismo"

Ótimas notícias para os que querem conhecer mais Wallace: ele começará a ser crescentemente conhecido até 2013, quando se completam 100 anos de sua morte. Prova disso é o lançamento, previsto para o segundo semestre, da primeira tradução de "Darwinismo", livro originalmente lançado em 1889. A EDUSP trabalhou na tradução da versão de 1891, e manteve as ilustrações originais, entre elas a célebre série do esqueleto dos cavalos americanos. Ela está presente em quase todos os livros didáticos de Biologia, mas pouca gente se dá conta de como o exemplo é antigo! O próprio Wallace se baseou na ilustração publicada por Thomas Huxley (1825-1895), o qual, por sua vez, tinha se baseado no trabalho de um paleontólogo norte-americano.

A orelha do livro deve ficar mais ou menos assim:
"Este livro é uma resposta clara àqueles que buscam por evidências de querelas e conflitos entre Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913). O nome do livro, escolhido pessoalmente pelo autor, antecipa de maneira auto-evidente, a admiração que existia entre os dois conhecidos formuladores da teoria da seleção natural. Wallace se dizia mais fiel a ela do que o próprio Darwin, mas fez questão de adotar o termo que já começava a se difundir amplamente, a designar aquilo que já era mais do que uma mera hipótese, uma robusta teoria, o “darwinismo”. De certa forma, Wallace antevia o componente da dupla que se sobressairia de maneira mais notável.

O livro tem, portanto, um caráter testemunhal, além de seu valor propriamente histórico. É nessa perspectiva que deve ser entendido, como um texto que retrata os primórdios do darwinismo, abordando assuntos que passaram por transformações profundas já nos anos seguintes. Ele causará surpresas, pois o leitor encontrará imagens até hoje presentes na maioria dos livros didáticos de Biologia em todo o mundo, a ilustrar a evolução do cavalo no continente americano.


É preciso cuidado, no entanto, pois alguns argumentos são muito sedutores, mas provaram ser infundados, por exemplo, quando Wallace fala do crescimento progressivo do cérebro nos mamíferos no Eoceno. Ele mantinha a ideia de evolução como aperfeiçoamento, muito provavelmente influenciado por suas convicções religiosas. A “invenção do progresso”, como a definiu Peter Bowler, era obra daquele tempo, varreu o que restara dos ares medievais da estática social, tão cara a Herbert Spencer, e influenciou decisivamente muitos pensadores da época.


O livro apresenta grande número de exemplos do poder explanatório da seleção natural e o novo cenário que as ideias evolucionistas permitiram desenhar, reconhecendo a complexidade de organismos pequenos e grandes, macroscópicos e microscópicos. Como foi publicado após a morte de Darwin, não é possível saber se ele próprio teria concordado com seu conteúdo ou até mesmo com seu título. De qualquer forma, caberá ao leitor formar seu próprio juízo, lembrando-se, sempre, que os dois grandes pensadores teriam se surpreendido com o estado atual do conhecimento biológico."

Para que a postagem não fique com uma orelha só, aproveito para comunicar outra boa notícia para o leitor brasileiro, o lançamento, pela Editora da UNESP, dos dois livros de Janet Browne, prometidos para abril: Voyaging e The Power of Place. A orelha ficou mais ou menos assim:

"Janet Browne trabalha há muitos anos com história da ciência do século 19 recebeu diversos prêmios por seu trabalho individual, resultado de reflexão e análise aprofundada de fontes de informação. No entanto, ela contribuiu de maneira muito importante do esforço de colocar ao alcance de outros pesquisadores e do grande público muitas fontes primárias, o que certamente serviu de incentivo à atividade acadêmica em diversas partes do mundo. Seu trabalho mais premiado é justamente esta publicação, em dois volumes, que trata cronologicamente uma meticulosa história dos acontecimentos que levaram Charles Darwin a desenvolver suas teorias. O primeiro volume, Viajando, trata justamente do jovem viajante, de sua preparação científica e da saga de sua viagem ao redor do mundo que durou longos anos. A exposição é muito precisa, de texto fluente, que traz elementos formais necessários ao especialista, ao mesmo tempo em que evita o hermetismo que impediria o leitor comum, não especialista, de acompanhar sua exposição. O segundo volume, O Poder do Lugar, trata da fase mais criativa de Charles Darwin, em envolveu não apenas um intenso intercâmbio com pesquisadores de todo o mundo, inclusive no Brasil, e uma profunda atividade intelectual, mas também de uma intrincada teia de relações políticas, de busca de sustentação e apoio não apenas científico. Isso faz desse volume uma contribuição inovadora, capaz de enfrentar a tradição “franciscana” de apresentação das idéias de Darwin. Seu filho, Francis, organizou sua correspondência e foi o responsável por sua primeira publicação, que veio a lume ainda no século 19, com uma organização tal que transmitia a imagem de um pesquisador trancado em seu laboratório, imune aos acontecimentos do mundo exterior, quase que obcecado pela ideia de enfrentar vitoriosamente a ignorância, estivesse ela onde fosse. Embora essa imagem “franciscana” tenha sido questionada, poucas vezes ela foi enfrentada oferecendo-se uma imagem alternativa global e coerente. Pois é isso que leitor poderá encontrar nessa importante obra. Os oito anos que separaram a publicação dos dois volumes, refletem não apenas a atividade da autora nos dois lados do Atlântico, seja na Grã Bretanha, seja nos Estados Unidos, mas principalmente um esforço de pesquisa e síntese que afortunadamente chega agora às mãos do leitor brasileiro."

Comentarei mais esses livros, em especial sobre o que Janet Browne fala da "doença do sono" que teria acometido Darwin (para não perder o fio da meada). Fica para uma postagem futura...


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Postagens e visitas

Comemorarei no twitter: no mês passado o Blog teve 688 visitas! Chegou a 71 visitas em um simples dia (dos namorados!). Parece que funciona mesmo...

terça-feira, 7 de junho de 2011

A Doença de Darwin

Saiu há algumas semanas uma matéria sobre uma reavaliação da doença que acometeu Charles Darwin por boa parte de sua vida. O que há de novo nessa matéria é uma nova opinião, desta feita por uma associação de médicos, que dedica parte de seu encontro anual a casos históricos famosos.

Não vi nada de novo na matéria, que se acrescentasse a o que escreveu Sergio Pena em sua coluna em Ciência Hoje ( disponível em http://www.medplan.com.br/materias/2/9177.html) publicada no início de 2009 - época certa para tratar da matéria, diga-se de passagem, por conta da dupla efeméride - Darwin e Chagas!

Minha opinião não mudou sobre a questão. Não conheço nenhuma indicação objetiva de que Darwin tenha contraído efetivamente a doença; o simples fato de ter sido picado por barbeiros em março de 1835 não é, nem de longe, indicação segura nesse sentido. Ele mesmo, posteriormente, se deixou picar por um desses insetos e o observou por diversas semanas para ter uma ideia de quanto tempo o repasto mantinha o bichinho vivo.

O melhor já escrito sobre o assunto ainda é o livro de Ralph Colp Jr (To be an invalid, 1975), falecido há pouco (caso contrário, deveria ter se manifestado). Ele traz uma relação de tudo quanto já se publicara sobre o assunto `a época. Sua conclusão é de que sintomas diversos de males crônicos, em especial os digestivos, acompanham Darwin desde a infância. Além disso, é altamente improvável que ele sofresse de algum problema único, pois o conjunto de sintomas relatados era grande. Os estudos feitos a partir de fotografias não eram, segundo ele, conclusivos.

Existe grande probabilidade de haver um componente emocional nos sintomas, e não se excluía a possibilidade do quadro incluir intoxicação por arsênico, que ele consumia por indicação médica (seu próprio pai o receitara, já alertando-o para riscos). Já se notou coincidência entre as perdas financeiras de Darwin e o agravamento dos sintomas, o que acrescentaria elementos em favor do componente emocional. Darwin, influenciado por seu primogênito, investia no mercado financeiro e a baixa de ações costumava ser mais dramática do que hoje em dia. Assim, grandes perdas financeiras pareciam ter efeitos importantes em seu estado geral.

Assim, creio que deve ter havido alguma causa orgânica, possivelmente agravada por intoxicacão por arsênico, quase certamente combinada por um componente emocional.

Fica uma sugestão: por que não se coletam fios de cabelo nos livros de sua biblioteca pessoal, assim como feito com Newton, e se testa a hipótese do arsênico? Isso sim acrescentaria alguma novidade ao debate.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sobre a questão ambiental

Várias pessoas têm me perguntado se vou desenvolver o que apresentei em uma recente conversa sobre a questão ambiental. Bem, antes de mais nada, seria bom que o material não se perdesse e eu gostara muito de ouvir opiniões de colegas. A matéria está no site da UOL:

http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2010/12/13/biologo-faz-balanco-ambiental-da-decada.jhtm

Sinceramente, acho que o Código Florestal trouxe um foco mais fechado para a questão, pelo menos para nós brasileiros. Além disso, como não estou mais trabalhando na Itália (voltei definitivamente), perdi um pouco referência do cotidiano de lá. Ainda mais porque o Berlusconi perdeu as eleições municipais, inclusive em seu ninho político, Milão, o que altera profundamente o cenário italiano (para melhor!).

Mas, assim que a Dilma disser o vai fazer com o texto aprovado no congresso, acho que seria bom retomar a questão a partir do Código Florestal.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Conhecer Novas Bases da Biologia

Diversos colegas me escreveram querendo conhecer o livro que traz os princípios que expus na palestra. Os professores de Biologia de escolas públicas devem ter recebido uma cópia gratuitamente. Caso não o tenham, basta contactar o representante da Editora Ática mais próximo, ou mandar um e-mail para

novasbasesbiologia@gmail.com

É possível ainda ter acesso ao todo o conteúdo dos três livros pelo seguinte link.

http://www.scipioneatica.com.br/galeria/ensino-medio/biologia/novas-bases-da-biologia.aspx


Gostaria muito de receber críticas e sugestões!


Abraço,


Nelio