Ontem foi um dia muito especial em
Dallas, no Texas. Todo o país ficou focalizado naquela curva, em
frente a um antigo depósito de livros didáticos, no sexto andar de
um prédio de tijolos aparentes, onde corais cantavam de maneira
emocionada os cinquenta anos da morte de JF Kennedy.
Visitei o local há alguns anos e me
emocionei. Transformado em um museu, é ponto de visitação
obrigatório na cidade. Em frente `a janela de onde saíram os tiros,
o local está rigorosamente como naquele dia, cinquenta anos atrás, com as caixas de livros didáticos.
Nas outras salas, um pouco da história daquele presidente, que
esteve `a frente de um país já muito poderoso, quando quase foi
detonada uma guerra nuclear.
Naquele mesmo dia, morria
aos 69 anos Aldous Huxley, em Los Angeles. Escritor inglês famoso, deixou uma
obra impressionante, assim como seu avô, Thomas Huxley, o “buldogue
de Darwin”, que chegou a conhecê-lo em seu primeiro ano de vida, e
Julian Huxley, seu irmão, um dos pilares da síntese moderna da
evolução e atuante político (foi um dos fundadores da UNESCO).
Essa triste coincidência deixou marcas
no dia de ontem, exatos cinquenta anos depois, quando obviamente muito se falou
de JFK e, pelo menos que eu saiba, ninguém se lembrou do autor de
Adorável Mundo Novo e (meu preferido) Sem Olhos em Gaza (ambos
disponíveis em língua portuguesa). O livro, diga-se de passagem,
nada fala de Gaza, mas compara a falta de visão de heróis da
antiguidade e de sua época, tratando dos fanatismos e do fundamentalismo religioso,
comparando sua cegueira pessoal (ele tinha baixa visão) com a
provocada pelos extremismos.
Os livros didáticos do Texas foram lembrados ontem não apenas naquele depósito do sexto andar.
Os livros didáticos do Texas foram lembrados ontem não apenas naquele depósito do sexto andar.
Uma
estranha coincidência cósmica se concentrou em Dallas, Texas, ontem, ligando os temas dos Huxley, livros didáticos, e a crença na construção de um mundo livre da cegueira dos fanatismos. Ela surpreenderia o clã Huxley e todos os
que lutam contra o obscurantismo anticientífico. Ao lado das
celebrações da efeméride comovente, o Conselho de Educação do
Texas divulgava, na mesma Dallas, a decisão de aprovar, pela primeira vez na história, livros didáticos de
Biologia que não abordam o criacionismo e o design inteligente, e
apresentam a evolução biológica como uma das bases da ciência
moderna.
As editoras estadunidenses, que
tradicionalmente preparavam edições especiais para estados
sulistas, evitando temas como reprodução humana, sexo, evolução
biológica, e até mesmo mudanças climáticas globais, desta vez
resolveram seguir as orientações da maioria dos estados americanos
– e do mundo! - incorporando esses assuntos ao currículo de
Biologia. Eles se recusaram a promover os cortes que já tinham se
acostumado a fazer no passado. Mas isso, hoje, se tornou quase
impossível, pois os livros modernos de Biologia de todo o mundo não restringem a abordagem
evolutiva a um único capítulo, como antigamente (no Brasil era geralmente o
último!).
A decisão terá repercussão pelos
próximos dez anos, enquanto os livros circularem, e certamente além,
pois não é possível entender o mundo moderno sem entender a
Biologia de nossos dias. Ao mesmo tempo, essa decisão traz ânimo a
todos os que lutam em favor do crescente esclarecimento humano, contra os
fundamentalismos que turvam a visão humana.
Aldous Huxley enxergou longe!
Para mais informações (copie e cole em seu navegador):
http://blogs.dallasobserver.com/unfairpark/2013/11/creationists_fear_defeat_in_th.php
http://www.dallasobserver.com/2013-11-14/news/creationists-last-stand-at-the-state-board-of-education/
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