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terça-feira, 7 de junho de 2011

A Doença de Darwin

Saiu há algumas semanas uma matéria sobre uma reavaliação da doença que acometeu Charles Darwin por boa parte de sua vida. O que há de novo nessa matéria é uma nova opinião, desta feita por uma associação de médicos, que dedica parte de seu encontro anual a casos históricos famosos.

Não vi nada de novo na matéria, que se acrescentasse a o que escreveu Sergio Pena em sua coluna em Ciência Hoje ( disponível em http://www.medplan.com.br/materias/2/9177.html) publicada no início de 2009 - época certa para tratar da matéria, diga-se de passagem, por conta da dupla efeméride - Darwin e Chagas!

Minha opinião não mudou sobre a questão. Não conheço nenhuma indicação objetiva de que Darwin tenha contraído efetivamente a doença; o simples fato de ter sido picado por barbeiros em março de 1835 não é, nem de longe, indicação segura nesse sentido. Ele mesmo, posteriormente, se deixou picar por um desses insetos e o observou por diversas semanas para ter uma ideia de quanto tempo o repasto mantinha o bichinho vivo.

O melhor já escrito sobre o assunto ainda é o livro de Ralph Colp Jr (To be an invalid, 1975), falecido há pouco (caso contrário, deveria ter se manifestado). Ele traz uma relação de tudo quanto já se publicara sobre o assunto `a época. Sua conclusão é de que sintomas diversos de males crônicos, em especial os digestivos, acompanham Darwin desde a infância. Além disso, é altamente improvável que ele sofresse de algum problema único, pois o conjunto de sintomas relatados era grande. Os estudos feitos a partir de fotografias não eram, segundo ele, conclusivos.

Existe grande probabilidade de haver um componente emocional nos sintomas, e não se excluía a possibilidade do quadro incluir intoxicação por arsênico, que ele consumia por indicação médica (seu próprio pai o receitara, já alertando-o para riscos). Já se notou coincidência entre as perdas financeiras de Darwin e o agravamento dos sintomas, o que acrescentaria elementos em favor do componente emocional. Darwin, influenciado por seu primogênito, investia no mercado financeiro e a baixa de ações costumava ser mais dramática do que hoje em dia. Assim, grandes perdas financeiras pareciam ter efeitos importantes em seu estado geral.

Assim, creio que deve ter havido alguma causa orgânica, possivelmente agravada por intoxicacão por arsênico, quase certamente combinada por um componente emocional.

Fica uma sugestão: por que não se coletam fios de cabelo nos livros de sua biblioteca pessoal, assim como feito com Newton, e se testa a hipótese do arsênico? Isso sim acrescentaria alguma novidade ao debate.

Um comentário:

  1. Ótima postagem! Estou trabalhando sobre o tema da teoria da seleção natural segundo Darwin e segundo Wallace, e encontrei diversas hipóteses para a enfermidade de Darwin, e suas formas de tratamento. Nunca descartei o critério emocional e achei muito válida a questão do arsênico.

    Minha orientadora no projeto conta que passou uma tarde com o senhor em um evento de 2007 (ou seria 2009), e inclusive recebeu um belo exemplar capa-dura do livro do evento de tuas mãos! De imediato me recomendou seu blog, e cá estou!

    Gostaria muito de conhecer a opinião do senhor acerca de Wallace! Qualquer breve trecho me deixaria contente!

    heitorcameschi@gmail.com

    Até breve!

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